No dia 21 de junho de 2023, a pesquisadora do Instituto Norberto Bobbio, Júlia Albergaria, se reuniu com o jornalista Lucas Galdino para contar sua história de formação. Para contar essa história ele apresentou como marcos referenciais, os livros mais fundamentais de sua vida.
As primeiras leituras
Eu cresci em uma família que não era de leitores. Pensando bem, acho que nunca vi minha mãe lendo um livro. Por causa da instabilidade financeira, ela precisava trabalhar durante vários turnos para criar três filhos sozinha – a leitura era a última das suas prioridades. No entanto, minha mãe sempre nos incentivou a estudar e correr atrás de um futuro melhor.
Haviam muitos livros didáticos em casa. Dos três filhos, sou o mais novo. Meu irmão mais velho tem onze anos a mais do que eu, enquanto o do meio tem seis. Assim, em fases diferentes da vida, todos nós tínhamos diversos livros didáticos que eram leituras obrigatórias da escola. A cada ano que passava, eles se acumulavam nas estantes de casa.
Aprendi a ler muito cedo, aos quatro anos de idade, embora ainda não conhecesse o significado das palavras. A primeira vez que encontrei sentido de um texto foi quando li A Casa Mal Assombrada da coleção Vagalume, aos sete anos. Essa experiência me despertou para outro universo e fiquei tão encantado pela história que contei para uma prima todo o enredo.
Por ser o mais novo da família, meus primos e irmãos me mimavam bastante. Ao notarem meu ânimo com a leitura, incentivaram-me a persistir e desenvolver esse hábito. Por isso, em várias oportunidades, fui presenteado com livros infantojuvenis. Nessa época, ganhei um Almanaque do Cebolinha, uma das principais personagens da Turma da Mônica. Foi um dos presentes mais legais da minha vida porque continha receitas, brincadeiras e diversas histórias. O Almanaque do Cebolinha me acompanhou ao longo de muitos anos e foi o verdadeiro responsável por estimular meu gosto pela leitura.
Essa porta de entrada é diferente das que foram apresentadas para outras crianças com idades similares à minha. Muitas delas foram estimuladas a ler pelos livros do Harry Potter que, naquele tempo, eram famosos no Brasil. Alguns anos depois, na oitava série, tornei-me um menino curioso que frequentava a biblioteca da escola para conhecer novos livros infantojuvenis. Nesse momento, o amor pela leitura se manifestou de forma definitiva.
Os anos escolares
Embora gostasse dos livros, não tinha o costume constante da leitura e só fazia na medida em que me interessava por uma história específica, como aconteceu com o Almanaque do Cebolinha. No ensino fundamental, continuei sendo um aluno estudioso e a disciplina de Língua Portuguesa era a que mais me atraía, pois era fascinado pelas possibilidades e brincadeiras que o nosso idioma revela. Dentre elas, lembro-me das atividades propostas pelas professoras para incentivar a prática da leitura nos alunos, como um trabalho que fiz sobre o livro A Borboleta Azul, da Coleção Vaga Lume.
Na casa da minha mãe, ainda estão guardados livros infantojuvenis que remetem à essa época. No entanto, como na família as pessoas não tinham outras referências, eu não conhecia histórias de outros gêneros. Inclusive, só depois de adulto que li a coleção do Harry Potter, quando ganhei os exemplares de um ex-namorado. Apesar de ter questões com a autora J.K. Rowling, até hoje mantenho os livros na estante por causa da memória afetiva que tenho deles. Muitas pessoas próximas me falaram que leram os volumes da coleção antes mesmo dos filmes serem lançados no cinema. Mas o meu primeiro contato com Harry Potter foi através dos filmes que passavam dublados no canal SBT, porque para mim sempre foi um luxo fazer um passeio como esse.
Movimento estudantil e os ensinamentos dos professores
No ensino fundamental II, os professores exerceram grandes influências nas escolhas de leitura. Olhando em retrospecto e refletindo sobre o tema, percebo que a maioria dos livros indicados foram escritos por autores brasileiros e destinados a jovens e crianças. No final do ciclo, no oitavo ano, todas essas influências me motivaram a ser jornalista.
Quando estava prestes a ingressar no primeiro colegial, tive duas grandes professoras de História e Sala de Leitura que incentivaram os alunos a ingressarem em movimentos estudantis. Inicialmente, me envolvi com o Grêmio Estudantil e logo me tornei presidente. Após algum tempo na militância, tive a oportunidade de elaborar um jornal escolar para ser financiado por uma ONG chamada Ashoka, que desenvolvia o projeto Geração Muda Mundo. Tratava-se de uma iniciativa focada nas comunidades periféricas e nas regiões socialmente vulneráveis na cidade de São Paulo.
Antes mesmo da verba para o jornal ser aprovada, os alunos colocaram a ideia em prática e aproveitaram os recursos do Grêmio para realizar atividades escolares. Esse projeto foi incrível, porque tínhamos o financiamento para adquirir todos os materiais necessários para a execução do jornal, que publicava notícias sobre o bairro, cultura pop, atualidades, etc.
Nesse primeiro contato com o jornalismo, descobri que poderia ser um bom comunicador. Apesar da timidez, aprendi a ser capaz de expressar sentimentos e opiniões com terceiros. Isso me deu autoestima para conversar com os alunos e desenvolver novas atividades no colégio. Além disso, com os movimentos sociais, aprendi muito sobre política e mobilização estudantil.
Assim nasceu a vontade de ser jornalista e, durante a gestão no Grêmio, realizei ações sociais e projetos para debater temas especialmente relacionados às temáticas LGBTQIAP+. Foi justamente nesse momento que me descobri enquanto homossexual, uma questão latente que não podia levar para casa. Como minha escola era conhecida por ser a mais inclusiva do bairro, junto aos meus colegas, fornecemos palestras para conscientizar a comunidade LGBTQIAP+ e levar informações para os alunos que não tinham a liberdade de falar sobre o assunto com suas próprias famílias.
Os professores foram a base da minha formação crítica e acadêmica. Minha mãe não tinha referências para me orientar por esse caminho por conta do lugar que ela veio e do tempo que passou trabalhando. A maior parte do meu aprendizado científico foi fruto do trabalho dos professores da escola. Apesar de não frequentar o período integral, passava o dia inteiro no colégio e só chegava em casa às 18h00. Lembro-me que, em uma reunião de pais e mestres, uma coordenadora falou sobre isso com minha mãe e fui repreendido pelo meu comportamento. Porém, ela não sabia que, enquanto estava no colégio, tinha a liberdade para criar e pôr em prática uma série de aprendizados.
Essas experiências foram fundamentais para o Lucas de hoje. Foi ali que descobri uma mente verdadeiramente criativa e empática e a importância de ajudar os outros. Obviamente que o reconhecimento importa, mas publicar o jornal não foi apenas para satisfazer minha vaidade. Na verdade, trata-se de um esforço para informar a comunidade escolar e auxiliar na luta pelos direitos dos estudantes. Há pouco tempo soube que o nosso Grêmio ainda existe, mais de dez anos depois de sua fundação. Esse legado pode até ser pequeno, mas altera todos os dias a perspectiva dos jovens que estudam naquela região da periferia de São Paulo.
O ensino médio
Durante o ensino médio, li muitos romances de ficção, especialmente os de Dan Brown. Apesar de reconhecer que existem críticas a sua literatura, é incrível o universo lúdico apresentado por ela. Até hoje aprendo com o entretenimento e a ficção, pois eles também formam leitores.
Nessa época, ganhei um sorteio promovido por um site chamado Lista dez e fui presenteado com um vale de R$100,00 para gastar na Livraria Saraiva. Assim, comprei o livro A Guerra dos Tronos, o primeiro volume da série Game of Thrones, e A Culpa é das Estrelas, uma obra que marcou uma geração inteira e também minha vida pessoal.
Devo confessar que não sou apaixonado por livros teóricos, pois o que me atrai são as histórias que captam a realidade. Nesse sentido, na fase adulta, apenas um livro desse gênero me marcou e ele se chama O Poder do Hábito: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios de Charles Duhigg. Apesar de ser um crítico ferrenho da “cultura coach”, essa experiência me ensinou dicas importantes para gerir a vida profissional. Hoje, sou um empreendedor e por isso, preciso de uma organização consistente dos projetos.
A formação em jornalismo
Na faculdade de jornalismo, os professores indicavam leituras obrigatórias, o que alterou profundamente o universo de referências até então estabelecido. A ficção sempre me atraiu porque a literatura possui inúmeros paralelos com a vida real e isso era suficiente para mim. Contudo, na graduação, precisei ler diversos livros de reportagens e, com isso, mudei totalmente a concepção que tinha sobre meu próprio gosto literário.
A partir dessas vivências, ficou claro que o meu desejo de ser jornalista devia-se ao fato de querer contar histórias reais. Embora reconheça o valor do jornalismo tradicional, meu verdadeiro interesse sempre foi ir fundo nas histórias e conhecer o íntimo das personagens. O primeiro livro-reportagem que me marcou foi o clássico Rota 66: a história da polícia que mata, de Caco Barcellos, porque o texto revela inúmeras possibilidades de reflexão. Fiquei profundamente inspirado por sua escrita e motivado a conhecer outros livros dessa natureza.
Porém, na faculdade, a leitura que mais me impactou chama-se Holocausto Brasileiro: Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil de Daniela Arbex. Talvez o principal aprendizado da obra seja a importância de realizar um jornalismo humano acima de tudo. A autora trata de um assunto delicado e expõe fotografias e imagens impactantes. Na época que tive contato com o livro, trabalhava em um veículo de imprensa sensacionalista que publicava pautas apenas por engajamento. Infelizmente, essa prática conhecida como “caça-clique” é utilizada até hoje por diversos jornais. A obra de Arbex me mostrou que é possível exercer um jornalismo humano oposto a tal tendência, da qual sou extremamente crítico.
Embora os professores da graduação tenham me ensinado sobre o jornalismo ético, me assustei quando ingressei no mercado de trabalho da comunicação e percebi que ele não é nem um pouco íntegro. Ainda que o mundo seja assim, tento entender o lugar que ocupo e o que eu posso fazer para chegar o mais próximo do meu propósito enquanto indivíduo na sociedade.
Construíndo perfis
Para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), meu grupo escreveu um livro-reportagem chamado De Dentro para Fora, que expõe um olhar sobre o pornô brasileiro ao longo dos anos. Abordamos o tema da pornochanchada da década de 1970 por meio da história de uma personagem e nosso intuito era apresentar uma perspectiva contra hegemônica da pornografia brasileira, a partir da história de quem trabalha no ramo.
Por causa da minha atuação profissional no mercado cultural, já estava acostumado a realizar entrevistas com artistas, bandas e músicos, como a cantora Linn da Quebrada. Mas, a entrevista da personagem central do livro-reportagem foi uma das mais densas que realizei. Esse hábito de construir perfis é uma paixão que permanece comigo e é a base do projeto Ter.a.pia. Nós focamos em uma história específica da pessoa, para conhecer o mundo através de seu olhar.
E os projetos sociais não param
Depois que terminei a faculdade, idealizei um projeto social chamado Gaymada, que promove jogos de queimada para o público LGBTQIAP+ nas ruas de São Paulo. Essa iniciativa foi subversiva porque promove a ocupação do espaço público, já que a vida dos membros da comunidade frequentemente é associada aos lugares fechados e noturnos. É muito importante se posicionar e ocupar a praça pública durante o dia, porque isso simboliza uma recusa em permanecer escondido. Ninguém deve ter vergonha de ser quem é enquanto pratica esportes.
A primeira vencedora do torneio foi uma drag queen que vestia um salto alto durante a partida, algo absolutamente incrível. O evento tomou uma proporção muito grande a ponto de acontecer edições na Virada Cultural, no aniversário de São Paulo, etc. A Gaymada foi considerada o segundo melhor evento LGBTQIAP+ de 2016, perdendo apenas para a Parada Gay. Porém, em 2018, comecei a idealizar o projeto Ter.a.pia e já não me sentia tão vinculado aos jogos de queimada. Foi então que passei o bastão para uma nova equipe e é muito legal ver, de longe, que eles estão ocupando cada vez mais espaços.
O início do Ter.a.pia
O Ter.a.pia começou a tomar conta da minha vida quando trabalhava no departamento de comunicação de uma escola em Cotia. Eu gostava do trabalho, mas não era o que eu queria fazer de fato. Lá, havia muita liberdade para experimentar e dar ideias, mas o meu propósito sempre foi maior. Assim, pensando no Lucas que cresceu na periferia de São Paulo, queria fazer algo que me deixasse orgulhoso. Desse modo, surgiu a ideia de ouvir as pessoas e levar suas histórias adiante. O Ter.a.pia nasceu de um incômodo partilhado por mim e pelo meu sócio e ex-namorado, Alexandre Simone, de querer ouvir as pessoas. Nós começamos o projeto como namorados e no meio do caminho terminamos o relacionamento, mas permanecemos muito amigos.
O momento político que deu origem ao Ter.a.pia foi conturbado e queríamos falar com membros de grupos políticos com os quais nos identificamos para entendê-los profundamente. Porém, não é interessante executar esse trabalho apenas nos períodos eleitorais; é fundamental que ele seja perene e cotidiano. Em uma democracia, não deve-se passar a impressão de que a cidadania só se realiza no voto. É importante falar sobre os sentidos da política que extrapolam as instituições partidárias, porque ela está em tudo o que fazemos. Nossos corpos são políticos e contam histórias.
Por muito tempo nos perguntamos como executar a ideia. Nossa intenção é revelar o íntimo para que o espectador, acima de tudo, respeite e valide a experiência do outro. Mas ainda restavam dúvidas sobre o melhor formato para a entrevista. Um dia, nós recordamos que, quando namorávamos, tínhamos o hábito de lavar louça juntos e conversar. Foi como um estalo perceber que ir até a casa das pessoas e ouvir suas histórias enquanto lavavam louça era o modelo ideal e inovador.
Normalmente, os veículos tradicionais de comunicação possuem uma forma engessada de entrevista e nosso desejo era fazer o oposto De repente, uma mudança de cenário pode revelar o relato em sua dimensão mais íntima. Estar na cozinha de alguém é o símbolo disso, porque é o lugar do “depois da festa” e são poucos os que recebem convidados nesse espaço. O próprio ato de lavar a louça deixa o entrevistado mais relaxado, pois não precisa prestar atenção na câmera e no aparelho de gravação. Essa ambientação se provou muito eficiente, ao ponto de algumas pessoas falarem sobre eventos de suas vidas que nunca contaram para ninguém.
Além de ser um ponto de fuga, lavar a louça é uma atividade que muita gente executa, o que gera identificação. Não é algo glamourizado porque nas casas, de uma forma ou de outra, sempre há o espaço da cozinha. No início do projeto, entrevistamos conhecidos, que nos apresentaram outras histórias interessantes. Foi nesse efeito de cadeia que o Ter.a.pia escalou e os espectadores passaram a enviar seus próprios relatos, o que nos mostrou a importância de dar voz para aqueles que querem falar e normalmente não são ouvidos por ninguém.
A nossa plataforma é uma forma de ecoar inúmeras vozes e levar as narrativas para o mais longe possível. Quando contamos a história de uma mulher trans, por exemplo, ela relatou que não se sentia respeitada nos espaços que frequenta, mas no canal se sentiu acolhida e validada.
O Ter.a.pia, hoje
O projeto tomou uma proporção tão grande que hoje são mais de 300 histórias contadas em dois formatos: em vídeos disponibilizados no canal do YouTube e no podcast Histórias para ouvir lavando louça. Além disso, tivemos um programa de TV no canal Tastemade e publicamos o livro A História do outro muda a gente, no qual reunimos 21 dessas histórias e também falamos o que aprendemos no processo. Dentre elas, há relatos sobre autismo, a questão trans, o desejo de não ser mãe, etc. São temas que aparentemente não estão relacionados, mas, no fim das contas, existem diversos vínculos entre eles, pois tratam de verdadeiras descobertas sobre si mesmo.
Os encontros nos afetam bastante, embora esses anos todos tenham nos preparado para que as histórias não atinjam a gente de forma danosa. Às vezes, os relatos são pesados e têm um desfecho que não é o que gostaríamos. Nós somos humanos e precisamos estar prontos para enfrentar tais dificuldades. Tanto eu quanto o Alexandre fazemos terapia e, nesses espaços, problematizamos todas as questões.
É justamente porque temos o acolhimento necessário que trabalhamos de forma mais eficiente. Mas todas as histórias realmente nos impactam de alguma forma, sobretudo para quebrar preconceitos. É essencial fazer o exercício de mudar as ideias pré-estabelecidas sobre tudo, assim como é importante se abrir para os mais diversos tipos de interação. Essa iniciativa vai contra uma tendência dominante que nos faz acompanhar, conversar e escutar apenas quem queremos e concordamos. Mas existem tantas outras pessoas que estão conectadas conosco de alguma forma, seja na fila da padaria, na feira ou no transporte público. Todos nós temos histórias, vivências e experiências individuais que são válidas e podem produzir identificação.
Olhar para o outro
É muito interessante quando a escuta do outro motiva uma mudança de opinião. Uma das entrevistas que publicamos no canal do Ter.a.pia era sobre uma senhora que perdoou a traição do marido, após ele engravidar outra mulher. Quando ele contou sobre o nascimento de seu filho, ela disse que precisava decidir com quem ia ficar, mas que não podia abrir mão de suas responsabilidades. Como o marido decidiu permanecer no casamento, ela acolheu completamente a criança e a mãe. Muita gente julgou essa atitude, mas sua decisão deve ser validada.
Por isso, acredito que o maior aprendizado é olhar o outro e compreender que suas ideias são legítimas desde que não interfiram na vida de ninguém. Afinal, existem outros tipos de relações e posturas além daquelas que temos convicção. Até mesmo a minha relação com o Alexandre é uma prova disso. Muita gente pergunta como conseguimos ser amigos tão próximos depois de namorarmos. Evidentemente, passamos por momentos de luta e, no livro, há um capítulo que conta essa história. Porém, conseguimos superar tais obstáculos e hoje temos uma relação excelente de amizade e parceria. Nós decidimos caminhar juntos de uma outra maneira, e por que não validar essa experiência se ela não causa mal a ninguém?
Na cabeceira
O livro que está na minha cabeceira no momento chama-se Longo e claro rio, escrito por Liz Moore. Trata-se de uma ficção sobre duas irmãs norte-americanas, sendo que uma delas é dependente química e a outra é policial. Há um confronto que revela diversas dificuldades da vida em comum. Não sei se é o meu livro preferido da vida, mas ele me ensina a reconhecer os privilégios concedidos a alguns em detrimento de outros. Eu até comparo a história das irmãs com a minha, porque fui criado por uma mãe solo que não estava muito presente porque precisava trabalhar para nos sustentar.
O livro preferido
O meu livro favorito se chama Herdeiras do Mar de Mary Lynn Bracht. Ele conta a história de uma comunidade matriarcal localizada em uma ilha do sul da Coreia do Sul. Isso significa que as mulheres são responsáveis por buscar alimento, por meio da caça e da pesca em alto mar. A história é incrível porque se passa durante a invasão japonesa no país e todas as perversidades que os invasores praticaram com a população local. As personagens centrais do livro são duas irmãs e uma delas foi sequestrada pelo exército japonês e transformada em escrava sexual quando criança. Apesar de ser ficcional, esses episódios de sequestros e famílias que foram separadas por conta da invasão japonesa na Coreia do Sul realmente existiram.
Por trás da ficção, existem universos desconhecidos. Esse livro expandiu meus horizontes porque fala sobre uma guerra que normalmente não é ensinada nas escolas. Nós aprendemos muito sobre a Segunda Guerra, mas sabemos pouco dessas histórias que também são horrorosas e não são contadas no Ocidente.
É incrível como a ficção pode nos abrir os olhos para realidades que não conhecemos. A literatura tem esse poder de nos transportar para diferentes realidades e nos fazer enxergar o mundo por outras perspectivas. É uma experiência única e enriquecedora.
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