O sereno é o homem de que o outro necessita para vencer o mal dentro de si

norberto bobbio

Nascido no Piemonte em 1909, Norberto Bobbio faleceu em 2004. Estudou direito e filosofia, em Turim, tendo na “lição dos clássicos” uma das marcas distintivas de sua obra. Professor de filosofia do direito, lecionou em Camerino (1936-1938), Siena (1939-1940), Padova (1940-1948), até retornar à Universidade de Turim, onde por 25 anos foi professor de filosofia do direito, com especial destaque para os temas do positivismo jurídico, jusnaturalismo e ciência do direito. Em 1972, transferiu-se para a Faculdade de Ciência Política, na mesma universidade, permanecendo lá até sua aposentadoria em 1984, onde exerceu um papel fundamental nos debates sobre socialismo e democracia.

Um dos grandes pensadores italianos do século XX, Bobbio tinha especial facilidade para convergir a figura do acadêmico e do intelectual que participava do debate público. Não por acaso, militou no breve Partido de Ação (1942-1946), um partido político socialista liberal, antes de ser membro do Comitê Central do Partido Socialista Italiano e, posteriormente, exercer o cargo de senador vitalício da República (1984-2001). Sua notoriedade também se manifesta com a participação nas mais prestigiadas academias da Itália – Accademia dei Lincei, de Roma, e Accademia delle Scienze, de Turim –, tendo sido presidente honorário da Sociedade Italiana de Filosofia Jurídica e Política, além de diretor de importantes revistas.

Ensaísta profícuo, com mais de 5.000 textos escritos, Bobbio obteve enorme sucesso editorial com alguns livros que pularam o muro da academia, tais como Política e Cultura (1955) e Direita e Esquerda (1994). Reconhecido como o “filósofo do diálogo”, são inúmeras as chaves de leitura que atravessam sua obra: do filósofo do direito ao filósofo da política, do historiador do pensamento político ao historiador da cultura italiana, Bobbio também foi um dos grandes estudiosos sobre os problemas da guerra e as vias da paz, temática que dá nome a um de seus livros mais atuais.

Tendo vivido um século em que eventos excepcionais aconteceram – duas guerras mundiais, o fascismo, o comunismo, o colapso do muro de Berlim, Auschwitz e Hiroshima –, o próprio Bobbio chega a dizer em uma entrevista: “minha vida pode ter um sentido porque narrando a minha vida eu a narro como uma testemunha”. O tempo da memória, tema que será objeto de reflexão nos últimos anos de Bobbio – em De Senectute e outros escritos autobiográficos (1996), outro sucesso editorial –, não é um tempo sacralizado, mas o tempo que nos dá acesso à análise esclarecedora, que nos permite compreender processos políticos de elaboração do passado. É o lembrar ativo que guia Primo Levi em É isto um homem?, a quem Bobbio escreverá Testimonianze – Primo Levi, perché, em razão do suicídio de seu amigo, em 1987.

Em sua última aula de filosofia política, após receber um buquê de flores com um cartão escrito “De seus alunos do último ano”, Bobbio cita Max Weber: “a cátedra universitária não é nem para os demagogos, nem para os profetas”.
Podemos dizer, também com base no sociólogo alemão, que Bobbio possui tanto as qualificações do cientista como as do professor. Amante das perguntas – “qual democracia?”; “qual socialismo?” –, o compromisso analítico com as transformações sociais faz com que o pensamento de Bobbio se faça fortemente presente nos dias de hoje, notadamente em meio às renovadas crises políticas, econômicas e sociais.

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