No dia 4 de abril de 2023, a pesquisadora do INB, Júlia Albergaria, conversou com o Diretor Executivo da Startup Hand Talk, sobre acessibilidade para deficientes auditivos. A Hand Talk foi premiada com o Selo de Reconhecimento em Inclusão e Diversidade da 1 edição do Prêmio Raymundo Magliano Filho.
INB: Como as leis de inclusão para deficientes auditivos garantem a acessibilidade dessa população? Na sua opinião, essas leis têm se mostrado eficazes?
Ronaldo: Acredito que a mudança ocorre através de dois processos distintos: o amor e a dor. Na busca por tornar o mundo mais acessível, nem todos serão guiados pelo primeiro caminho, que envolve transformação motivada por empatia, desejo de justiça e a vontade de auxiliar o próximo. Em muitas ocasiões, para que os efeitos da transformação sejam perceptíveis, é necessário recorrer à via legislativa. Isso é algo que, para alguns, pode parecer uma imposição.
No contexto da acessibilidade, as leis brasileiras estabelecem padrões de conduta que a sociedade deve seguir e sua elaboração é fundamental para o avanço da inclusão. No Brasil, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi oficialmente reconhecida como língua em 2002, há um pouco mais de 20 anos. Esse reconhecimento foi um marco que possibilitou a formulação de outras leis relevantes para as pessoas surdas, as quais regulam o ambiente em que atuamos atualmente.
Em 2016, houve um avanço significativo nesse movimento com a promulgação da Lei Brasileira de Inclusão (LBI). Isso permitiu ao Brasil se destacar nas questões de acessibilidade em comparação com nações desenvolvidas. Na minha perspectiva, isso representou um progresso considerável. No entanto, acredito que ainda é necessário implementar medidas punitivas para aqueles que não cumprem as leis.
Embora já exista uma definição clara sobre as boas práticas de acessibilidade, é necessário fomentar e motivar as pessoas a efetuarem sua implementação.Do meu ponto de vista o Brasil já possui um papel de destaque em relação às leis de acessibilidade. Contudo, é imperativo que alcance um status de excelência também em termos de fiscalização e aplicação de penalidades quando essas leis não forem obedecidas.
INB: Quais são as tecnologias assistivas disponíveis para melhorar a acessibilidade para deficientes auditivos? Como elas podem ser utilizadas para garantir a inclusão dessa população em diferentes espaços sociais?
Ronaldo: Existem diversas abordagens para promover a acessibilidade para pessoas com deficiência auditiva, sendo muitas delas viabilizadas por meio da tecnologia. A presença de intérpretes de Libras é de extrema importância, não apenas para aqueles que se comunicam por meio da língua de sinais. Atualmente, tais intérpretes podem desempenhar um papel essencial na vida dos deficientes auditivos por meio das tecnologias e serviços de videoconferência, possibilitando uma comunicação eficaz entre surdos e ouvintes em âmbito global.
Outra ferramenta vital é a legendagem. Para pessoas com deficiência auditiva com fluência na língua portuguesa, a legenda representa uma opção valiosa e útil. Existem até mesmo recursos automáticos de legendagem que se mostram altamente eficientes, convertendo o conteúdo oralizado em texto para oferecer acesso pleno às informações.
Ademais, tecnologias inovadoras, como a tradução automática por meio de avatares 3D virtuais, são capazes de traduzir automaticamente o conteúdo de um site para a língua de sinais. É importante ressaltar que uma parcela significativa desta população não é fluente em português, o que torna crucial a tradução de conteúdos escritos para a maior parte das línguas nativas.
Os recursos tecnológicos têm desempenhado um papel fundamental em melhorar a vida dessas pessoas. Eles eliminam barreiras de comunicação e permitem às pessoas com deficiências auditivas acessarem informações, conhecimentos e produtos. Isso contribui na promoção de uma sociedade mais inclusiva porque reduz distâncias.
INB: Como as empresas e instituições públicas podem promover a acessibilidade para deficientes auditivos em seus serviços e atividades? Quais são as principais estratégias e medidas que podem ser adotadas para garantir a inclusão dessas pessoas em diferentes contextos?
Ronaldo: Para construir um mundo mais inclusivo, é crucial que as organizações e empresas empreguem pessoas com diversas experiências e habilidades. Isso capacita o mercado a desenvolver produtos e conceitos que atendam às necessidades de todos. As empresas estão em uma posição privilegiada para compreender e abordar os desafios enfrentados pela população de forma abrangente.
No entanto, é inegável que existe uma barreira significativa: a contratação de pessoas com deficiência. Muitas vezes, as empresas enfrentam dificuldades em realizar processos seletivos para grupos específicos, como surdos, quando não oferecem um ambiente acessível para esses candidatos. Isso naturalmente resulta em poucas inscrições. Da mesma forma, se a infraestrutura não é acessível para cadeirantes, a contratação de pessoas com mobilidade reduzida torna-se um desafio.
A solução começa com uma análise dos obstáculos que impedem a inclusão de pessoas com deficiência. Uma vez identificadas, é necessário encontrar maneiras de superá-las, sendo uma das abordagens mais eficazes a participação direta dessas pessoas no desenvolvimento de soluções. Somente com a contribuição delas é possível criar um ambiente propício à criação de soluções mais acessíveis e inclusivas.
É importante entender que a acessibilidade é uma jornada contínua. Nada será perfeito desde o início, mas o que importa é dar o primeiro passo e progredir na direção certa. À medida que a organização avança, impactos positivos são gerados e se multiplicam. Os feedbacks recebidos auxiliam na melhoria das iniciativas de acessibilidade e incentivam a expansão desse impacto.
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